As noites de domingo são estranhas, vazias e sem sentimento elas nos assombram como se fossem fantasmas conhecidos ou não. Talvez seja à espera da indesejada segunda-feira, talvez não, segunda não é um dia morto, domingo sim.
Passo o dia inteiro deitado, quando não estou lendo, estou dormindo, mas sempre deitado. Nada pra fazer, é como se fosse um risco em um papel branco apagado por uma borracha, mas por mais forte que seja o apagamento, sempre sobra o borrão provando que alguma coisa ali foi escrita e existiu. Essa é minha vida. Estudo para ser alguma coisa, mas nem sei o que sou nos dias de domingo, talvez um borrão indefinido em um papel em branco.
Olho pro relógio, ele marca oito horas. Bate aquela fome, vou a cozinha e não encontro nada decente para um ceia digna de um domingo. Sinto falta da macarronada de minha mãe.
Vou ao meu quarto e vasculho em minha carteira algum dinheiro que de para comprar ao menos um cachorro quente simples. Um real, dois reais, cinqüenta centavos, dois reais e cinqüenta centavos deve ser o suficiente. Visto uma roupa comum, penteio os cabelos e vou a rua a procura de meu desjejum como um animal faminto procura por sua presa.
Indo ao local passo pela igreja matriz dessa cidade, e vejo as pessoas indo à missa. Lembro-me quando eu costumava a ir também as missas de domingo, mas isso é coisa do passado, hoje sou meu próprio deus, talvez esteja errado em pensar assim, mas quem irá me julgar a não ser minha própria consciência?
Chego no carrinho de cachorro-quente, o cheiro da salsicha cozinhando me deixa com a boca a salivar, penso que deve ser legal ter um carrinho de cachorro-quente e o quanto aquele cara já deve ter ouvido histórias e lendas. Sorte minha que o movimento ali estava pouco e logo sou atendido. Peço um dog simples com um sorriso sem graça. Enquanto espero meu banquete uma figura estranha se aproxima de mim, conheço ele apenas de vista, é mais um desses andarilhos ou bêbados figuras que toda cidadezinha tem. Ele sente ao meu lado, o dono do carrinho do cachorro quente fala pra mim mandá-lo embora, mas eu recuso, ele até que era uma boa companhia para aquela noite sem graça.
O cara conversa algumas coisas desconexas comigo, sobre dinheiro, vida, governo, coisas comuns, mas o engraçado é que apesar de desconexas todas elas tem um padrão. Ele é como se fosse um narrador em terceira pessoa.
Meu lanche chega e a fome bate forte, mas agora vejo que também há outra pessoa com fome ao meu lado, decido dividir meu lanche com ele, afinal ele tinha feito um favor sendo uma companhia para mim, nada mais justo eu retribuí-lo.
Ele agradece com um sorriso banguela e sincero, e devora a metade do lanche, sobras de pão e tomate ficam penduradas em sua barba espessa.
Logo também termino meu desjejum, e antes de me despedir, o pessoal que outrora estava na missa ruma agora para a carrocinha de cachorro-quente. Pergunto a ele antes de partir o que ele achava disso, deus e religião. Ele me responde. De nada adianta crer se você não acreditar. Ele tinha razão e sabia demais.
2 comentários:
vc esta fazendo o jornal universitário??
beijos
Deus se disfarça de mendigo para nos ensinar um pouco de "vida"... Chame de sábios de rua, ou poetas do asfalto se quiser, ou se crer. ;)
Abs
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